quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Tuígui não mora mais aqui.

Tuígui, meu amor. 

Este post vem em um momento de muita tristeza, e também de um inevitável sentimento de culpa. Em 16/08/2017, às 11h00, partiu a nossa querida porquinha-da-índia Tuígui, também carinhosamente chamada por Capivarinha. Foram seis anos de vida.

Tuígui foi, de longe, nossa porquinha mais dócil e inteligente.

Nós a compramos em um Pet Shop de um shopping center badalado daqui de Sampa, o Villa Lobos. Compramos mais por misericórdia. Havíamos perdido um porquinho, o Cuí (que já veio doente para a nossa casa), e estávamos muito tristes. Estudávamos a possibilidade de um outro e desta vez, nos preparamos muito para receber um outro, passamos a pesquisar sobre porquinhos-da-índia e a tentar entender o porquê o Cuí havia morrido em três dias após chegar em nossa casa.

Chegamos no Shopping Villa Lobos e meu marido e meu filho foram "assuntar" os ferrets e outros exóticos, enquanto eu, de cara, fui verificar os porquinhos-da-índia. Para a minha desolação e indignação eu vi ali em uma coelheira pequena, um grupo de porquinhos-da-índia apinhados, uns sobre os outros, em um recinto sujo. Minha indignação foi a de que, enquanto os demais animais estavam em exposição em recintos "bonitos", bem apresentados, os porquinhos estavam em um espaço deplorável, junto de dois coelhos!

E cedi ao impulso decorrente de um pensamento distorcido de que comprando-os, eu os salvaria. Mas eram vários, uns oito a dez. Não poderia levar todos. Tinha de escolher um.

Meu filho interessou-se por um porquinho todo branco, de olhos vermelhos: típico alimento para serpentes. Já havia lido de que os porquinhos são seres sociais, e que em dupla a qualidade de vida pode ser melhor. Então, vi a Tuígui por baixo de todos os porquinhos. É esse!

Então levaríamos dois, por "misericórida". No Pet Shop havia um único atendente (o gerente). Pedi a ele que identificasse o sexo dos porquinhos. Ele não sabia como fazê-lo, e foi bem honesto. Já havíamos escolhido os dois e os levamos para casa.

Os dois vieram em petição de miséria: vieram com sarna, micose, piolhos, feridas, escaras, alopecia (falta de pelos). Eles se coçavam tanto, que as toquinhas tremiam! Pensem em porquinhos feios. Eram eles. A quatro-cores era totalmente preá. Preazona. Orelhas em pé e faltando pedaços, focinho alongado, pelo grosso, áspero, diametralmente o oposto aos padrões dos porquinhos "fofos", inclusive para os de raça inglesa. O branco de olhos vermelhos, era tipo cobaia. Mas pelo menos, suas orelhinhas caídas e o focinho mais suave o deixavam mais "simpático".

Pelas especificidades dos porquinhos-da-índia, sabíamos que deveríamos procurar por um veterinário especializado em animais silvestres/exóticos. Encontramos a Drª Ana Carolina Gomes, que também criava porquinhos. Foram três meses de tratamento intensivo para que eles se tornassem sadios!

A Drª Ana fez a sexagem e para a nossa surpresa, não eram duas meninas, mas um casal. O branco era um machinho que foi rebatizado de Lola, para Charlie, e a quatro-cores, uma fêmea, batizada de Tuígui. Também avaliou que eles teriam, no máximo, 50 dias. Bem, era necessário separá-los antes que a fêmea emprenhasse. Como os porquinhos estavam muito doentes, tínhamos de aguardar a recuperação para castrar o macho. A castração foi realizada pelo Dr. Alessandro Bijjeni (o Pufe), da Exotic Pets.

Quando puderam ficar finalmente juntos, Charlie e Tuígui ganharam um cercado muito enriquecimento ambientalmente.

Por esta época, passei por uma depressão brava. E foram os cuí-cuí-cuí (para os leigos, a onomatopéia da vocalização dos porquinhos-da-índia) que me puxavam para cima e me davam um sentindo para continuar vivendo, um dia por vez.

Durante este período nefasto, as poucas forças que tinha era para alimentar os porquinhos, lavar os vegetais, parti-los, limpar o cercado. Ficava sentada horas na frente do cercado, observando o comportamento deles. Daí nasceu o amor incondicional e a admiração pela Tuígui.

Selena, Charlie e Tuígui.
Fazíamos, como estratégia do enriquecimento ambiental, obstáculos para o porquinho chegar até o alimento preferido. Tuígui, por vezes, empurrava a toquinha até próximo do alimento, pulava sobre ela e assim alcançava as deliciosas folhas de catalonha. Pode ser coincidência, mas ela era a única que fazia isso, e repetidas vezes.

Também foi a primeira a aprender e executar com habilidade os truques para sentar e girar no mesmo eixo.

E vieram outros porquinhos: a Selena Gomez (atualmente com cinco anos e dez meses), Tatu e Gadih (ambos com quatro anos e oito meses), e até uma cadelinha, a Boo.

Infelizmente, Charlie partiu com quase quatro anos. Foi um porquinho "highlander". Teve problemas nos dentes, extraiu um molar, desgastou os demais, inclusive os incisivos. Chegou a ficar internado por quarenta dias lá na Exotic Pets, e foi a persistência e experiência do Dr. Alessandro Bijjeni que o trouxe de volta por duas vezes. Viveu mais um ano e meio, mas um dia, em um único dia, parou de comer, ficou quieto, teve convulsões e faleceu a caminho do hospital veterinário. Isso já há dois anos e pouco.

E o tempo passou. Seis anos.

Sinto sua falta, Tuígui. Por hábito, já fui várias vezes ao teu cercado e vejo a Seleninha. E te procuro. A ficha cai: Tuígui não mora mais aqui.Muito obrigada por ter salvo a minha vida por duas vezes. Se pudesse voltar no tempo! E sinto-me culpada por não ter entendido todos os seus sinais.

                                                                                                              São Paulo, 17 de agosto de 2017.